sábado, 23 de abril de 2011

Fácil de Entrar, Difícil de Sair



Muitas vagas, baixa concorrência e uma nota de corte bem razoável. Sem dúvida, atrativos para quem quer muito entrar na universidade, mas, ou não sabe direito o que quer fazer ou não se preparou para enfrentar o crivo do vestibular nas carreiras mais concorridas. Na Universidade de Brasília, são muitos os exemplos de cursos nos quais a entrada é tranqüila, mas a saída exige sacrifícios inesperados.

‘‘Tem muito aluno que acha que depois de passar no vestibular a vid

a fica mansa’’, diz a coordenadora de graduação do Instituto de Física da UnB, Zilda Maria de Oliveira. A Física é um exemplo clássico de curso de fácil acesso e árdua saída. A cada semestre, 50 alunos são admitidos no curso, incluindo todas habilitações e turnos. Em abril próximo, quando acaba o segundo semestre de 2001, Física deverá diplomar sete estudantes.

No Instituto de Química, entram 74 alunos a cada vestibular. Este semestre, o número de formandos, segundo o coordenador de graduação, Marcelo Moreira Santos, será atípico: 30. ‘‘Acabou que acumulou bastante gente para se graduar este semestre. Mas, teve anos que conseguimos formar apenas dois alunos.’’

Na área de Humanas, o melhor exemplo é a Filosofia. O coordenador de graduação, Cláudio Reis, conta dos anos em que a cadeira não formou ninguém. ‘‘É uma frustração muito grande para um professor ver que, ao fim do semestre, ninguém conseguiu se formar’’, disse. A Filosofia tem uma das menores concorrências do vestibular: Foram 11,21 candidatos por vaga no último exame de meio de ano.

Alguns cursos, como a Agronomia, também tinham um perfil de formar poucas pessoas em comparação ao número de aprovados. O coordenador do departamento, Marcelo Rezende, entretanto, atesta que a situação mudou bastante na última década. Antes o curso formava 12 ou 13 alunos por semestre. Quarenta ingressavam. Agora, vão se graduar 31. ‘‘As perspectivas profissionais do agrônomo melhoraram com a recente expansão agrícola do Centro-Oeste e de estados como a Bahia e o Tocantins. Com isso, atraímos alunos mais dedicados.’’


Falta de compromisso

Os cursos com baixa concorrência e pequena nota de corte (ver quadro) no vestibular atraem estudantes que colaboram para os altos índices de evasão e o baixo número de formados. Um deles é o aluno com uma fraca formação de ensino básico, que acaba ‘‘quebrando a cabeça’’ e, muitas vezes, e desiste diante das demandas do curso.

‘‘Nosso curso é complexo e exige do aluno uma boa formação em Biologia, Química, Física, Política e Economia. Quando o estudante tem problema de educação de base, complica’’, diz o coordenador da Engenharia Florestal, Ildeu Soares Martins.

Estudante do oitavo semestre da Florestal, João Santana, 22, disse que procurou o curso por unir a vontade de trabalhar com as questões da natureza com a facilidade de ingresso. João confessa que vários dos seus contemporâneos de vestibular abandonaram o curso. ‘‘Meu primeiro semestre foi dureza, cheguei a reprovar em algumas disciplinas. O curso não é mole, não dá de levar nas coxas’’, conta.

O aluno Leonardo Kuhn, 20, do quarto semestre da Física, acha normal que os calouros se assustem quando percebem a complexidade do curso. ‘‘No começo foi um baque. Nosso curso é muito mais difícil que boa parte dos difíceis de entrar’’, disse. Para Cláudio Reis, coordenador da Filosofia, os alunos que vem para esses cursos mais complexos, sofrem bastante. ‘‘Há um problema de adaptação. É um universo muito diferente daquilo que eles viviam no ensino médio ou no cursinho’’, avalia.

O estudante Hugo Cuoco, 24, é um dos seis formandos de Filosofia neste semestre e é taxativo ao dizer que entrou no curso porque gostava da disciplina desde o ensino médio. ‘‘Não entrei porque era fácil. Mas, tem gente que faz isso’’, afirmou. Para Hugo, o curso não o surpreendeu devido às complexidades. ‘‘Era mais ou menos o que eu imaginava. Eu gosto do curso, até porque eu sabia que não me daria uma grande perspectiva de emprego. Eu quero ser professor mesmo de ensino médio’’,

As deficiências e indecisões de parte dos alunos que vão parar em Física ou Filosofia, por exemplo, além de alta evasão e poucos formandos, levam a uma média de maior de tempo para formar. Na Química, o tempo mínimo é de três anos e meio. Mas, segundo o coordenador Marcelo Moreira, a maioria dos alunos se forma em quatro anos e meio ou cinco anos. ‘‘São poucos os que conseguem se formar no tempo mínimo (cinco anos) na Florestal’’, afirmou Ildeu Soares Martins.

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