Empresa viu sair nomes de peso nos últimos meses no Brasil e no exterior, mas prevê seis mil contratações em 2011
Os agrados do Google a seus funcionários já são notórios: refeições gratuitas, espaço para a prática de esportes no trabalho, mesa de pebolim, cafeterias, massagem, bicicletas para deslocamento dos funcionários no complexo em que a companhia está sediada, em Mountain View (Califórnia), creche, patinetes motorizados e tempo livre para o empregado se dedicar a projetos pessoais. A empresa é considerada uma das melhores empregadoras do mundo. Esse status, no entanto, não garante a ela vida fácil para a retenção de seus melhores talentos.
Complexo do Google em Kirkland, estado de Washington (EUA): mesa de pebolim no ambiente
Nesta segunda-feira foi confirmada a saída do executivo Alexandre Hohagen da empresa. A mudança engrossa a lista de casos que mostram que mesmo um empregador exemplar tem desafios para a manutenção de sua força de trabalho. Hohagen ocupava a vice-presidência do Google na América Latina e foi um dos responsáveis pela criação e gestão da empresa na região por quase seis anos.
No Brasil e no exterior, o Google perdeu nomes de vulto nos últimos meses. Em setembro, Alexandre Dias, então diretor-geral da empresa no Brasil, deixou o posto para assumir o comando da Anhanguera Educacional. Nos Estados Unidos, onde se registram saídas de engenheiros e desenvolvedores, partiram figuras como Chad Hurley, um dos criadores do YouTube (que, embora comprado pelo Google em 2006, tinha Hurley como principal executivo até outubro de 2010), Omar Hamoui, fundador da AdMob (empresa de publicidade para telefonia móvel vendida por ele ao Google em 2009), e Lars Rasmussen, que ajudou a criar o Google Maps.
Há um fator bastante evidente para algumas das perdas: o Facebook. A rede social do jovem bilionário Mark Zuckerberg atraiu Alexandre Hohagen, que na nova casa ocupará a vice-presidência de vendas para a América Latina. Em outubro, já havia atraído também Rasmussen, empolgado com o novo destino. “A descrição do meu trabalho é ‘venha passar um tempo com a gente e depois nós vemos o que acontece’, o que é uma coisa muito excitante”, disse ele na ocasião. “O Facebook me parece o tipo de companhia do qual nasce apenas uma a cada dez anos”.
No fim de 2010, dos mais de 1,9 mil currículos de funcionários do Facebook cadastrados na rede LinkedIn, cerca de 300, ou 15% do time, exibiam o Google como um ex-empregador. Nessa lista está Sheryl Sandberg, a número dois na empresa de Zuckerberg. A executiva responsável pela parte operacional da companhia liderou operações e vendas no Google – e há anos é figura certa na lista das 50 mulheres mais poderosas do mundo dos negócios elaborada pela revista "Fortune".
A movimentação, é claro, não se deve exclusivamente ao magnetismo do Facebook. Já com os louros de ter sido um dos pais do YouTube, Chad Hurley lançou-se a desafios sui generis. Primeiro – e antes mesmo de deixar o comando do site de vídeos –, embarcou no malogrado projeto de criação da US F1, equipe norte-americana que disputaria o campeonato mundial de Fórmula 1 em 2010, mas que não foi adiante. Agora, dedica-se à Hlaska, grife de vestuário masculino. Omar Hamoui, da AdMob, por sua vez, saiu sem destino certo na ocasião de sua partida, em novembro. Todos foram precedidos por Tim Armstrong, ex-vice-presidente sênior e chefe de publicidade do Google para as Américas do Norte e do Sul. Ele saiu da companhia há dois anos para assumir a AOL - e causar um reboliço no jornalismo norte-americano.
Talentos irrequietos
Há 12 anos, o Google, saído da prancheta de Larry Page e Sergey Brin, era apenas mais uma empresa na garagem de universitários nos Estados Unidos. Hoje, a companhia é uma gigante da tecnologia, com receita anual de cerca de US$ 25 bilhões e 24,4 mil empregados no fim de 2010. Com maior estrutura, a tomada de decisões fica mais lenta, o que afugenta alguns dos irrequietos talentos do sempre espevitado Vale do Silício da Califórnia, o centro nervoso da indústria mundial de tecnologia.
“Houve um tempo em que três pessoas no Google podiam construir e entregar um produto de âmbito global, e isso passou”, declarou em novembro ao jornal "The New York Times" o principal executivo da empresa, Eric Schmidt. “Está mais difícil fazer as coisas acontecerem. Essa é provavelmente nossa maior discussão estratégica”. Em abril, Schmidt deixará o cargo que ocupou por dez anos para presidir o conselho de administração da empresa. Seu substituto será Larry Page.
Também não é de se desprezar o fato de o vertiginoso crescimento do Facebook lançar holofotes adicionais sobre a saída de talentos do Google. É preciso relativizar essas defecções. “Essa movimentação no mercado sempre existiu”, diz Félix Ximenes, diretor de comunicação e de políticas públicas do Google no Brasil. “Ela é característica do mercado da web, um traço da nossa indústria”.
Talentos partem, talentos chegam. A companhia programou para este ano a contratação de seis mil pessoas em todo o mundo. Se a meta for atingida, será o ano com o maior número de contratações na história da empresa - o recorde foi estabelecido em 2007. No Brasil, onde atuam cerca de 250 pessoas, deverão ser incorporados pelo menos 60 novos profissionais. “Nossa força de trabalho vai crescer, no mínimo, 25%”, afirma Ximenes.
Eis a resposta para o plano de atrair novos cérebros: no intervalo de uma semana entre o fim de janeiro e o início deste mês, depois de anunciar que terá seis mil vagas mundo afora, um número recorde de 75 mil pessoas se inscreveram para um emprego. Elas relevam o fato de o Google não estar mais, como esteve em 2007 e 2008, no topo do ranking dos melhores lugares para trabalhar, elaborado pela revista "Fortune". Com massagens, tempo livre para criar projetos do zero, patinetes motorizados e mesas de pebolim, a empresa é hoje a quarta colocada no ranking.
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