quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Escola mais atrapalha do que ajuda a genialidade

durante 30 anos afirma que escola mais atrapalha que ajuda genialidade


Editora Globo
Andrew Robinson, autor de "Sudden Genius"
Ele conheceu pessoalmente alguns dos maiores pesquisadores e artistas de sua época e estudou durante décadas os grandes nomes dos séculos passados.
O químico, historiador e jornalista Andrew Robinson destrincha a vida de 10 dessas personalidades da intelectualidade em seu recém-lançado livro, "Sudden Genius?" ("Gênio de repente?", sem edição em português), onde identifica o que os gênios têm em comum.
Ao falar com Galileu, Robinson diz que a escola atrapalha a genialidade, que a inteligência não está diretamente relacionada com descobertas geniais e que, no futuro, devemos ter cada vez menos gênios.
Confira o que ele descobriu após ir a fundo na vida de gente como Einstein, Darwin e Cartier-Bresson:
Revista Galileu: Seu pai, Neville Robinson, foi um físico de destaque na Inglaterra. Qual foi o papel dele no seu interesse sobre gênios?
Andrew Robinson: Um dos amigos dele, que frequentava a minha casa, era Philip Anderson [Prêmio Nobel de Física por pesquisas que possibilitaram criar a memória de computador]. Eu conheci o professor Anderson quando era criança, assim como outros cientistas importantes e prêmios Nobel. Desde pequeno, o meu interesse pelo assunto foi crescendo.

O que mais impressiona nos gênios?
Pessoas muito criativas são muito diferentes. Mas todos têm um ponto em comum: são muito focados no que fazem. Arthur C. Clarke, por exemplo era extremamente focado em escrever os seus textos ou nas últimas novidades da ciência, especialmente ciência espacial. O genial diretor de cinema indiano Satyajit Ray era absolutamente imerso no que fazia. As pessoas excepcionalmente criativas pensam o tempo todo no seu trabalho, mesmo quando deveriam, supostamente, estar relaxando.
O que traz consequências na vida pessoal...
Sim, boa parte deles teve uma relação muito complicada com o círculo de pessoas íntimas. Einstein, por exemplo, tinha uma vida pessoal bem complicada. Eles conseguem curtir a vida se as coisas no trabalho estão indo bem. Se eles não conseguem levar adiante o trabalho, os relacionamentos ficam ruins. Os gênios também tendem a ter poucos filhos e não costumam dividir muito nas relações. No fim, todos os gênios são obcecados por si mesmos, mas alguns deles são mais charmosos.
Editora Globo
"Sudden Genius", livro de Andrew Robinson
Conhecer a fundo a vida de gênios destruiu algum mito que você tinha deles?
Alguns pensam que a genialidade tem a ver com flashes de inspiração. Até tem relação, mas são necessários muitos anos de trabalho num assunto antes; os momentos de genialidade não vêm do nada. Outra coisa: todos têm uma auto-estima muito grande. Todos esses 30 anos estudando o assunto, e nunca conheci um gênio humilde. Isso não existe. Talvez alguns podiam ser exigentes com eles mesmos. Picasso, por exemplo, dizia que quando estava sozinho, não achava que era um artista de verdade. Ele dizia que pensava em Goya e Rembrandt como artistas de verdade, mas não ele. Isso pode ser verdade, embora ele nunca tenha sido alguém humilde. Einstein também tentava sempre se comparar a Newton e se julgava menor.
Isso os incentivava a melhorar?
Definitivamente. Essas pessoas eram motivadas por suas cobranças internas. Elas podiam dizer uma coisa nada humilde nas entrevistas, mas elas estavam sempre se comparando com as figuras que eles consideravam ser as melhores no assunto.
Você menciona a “regra dos 10 anos” no seu livro [segundo a qual é necessário esse tempo antes de uma descoberta genial]. Só que hoje, os cientistas ganham publicidade por suas descobertas muito antes. Isso pode atrapalhar o desenvolvimento de um trabalho realmente genial?
Boa pergunta. Não tenho dúvidas que, na ciência, isso tem levado as pessoas a não desenvolverem as ideias tão bem quanto poderiam antes de anunciá-las. Pessoas como Stephen Hawking anunciam suas ideias rápido demais e depois têm de mudar. Isso, é claro, jornalistas e todo mundo quer saber logo o que ele pensa. O que salva é que, muitas vezes, as ideias geniais vêm de pessoas muito jovens, que podem não estar tão à vista do grande público. Não acho que a internet vá matar a criatividade excepcional. Infelizmente, há menos gênios agora e eu acho que os gênios vão continuar a rarear. Principalmente por conta da especialização, mas também porque artistas e cientistas precisam de suporte financeiro que não conseguem.
>> Videogame prepara o cérebro para tarefas complexas, diz pesquisa
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As redes sociais não atrapalhariam isso? Em seu novo livro, Jaron Lanier diz que "você tem de ser alguém antes de se mostrar". Você concorda?
Quando eu encontrei Arthur C. Clarck nos anos 90 no Sri Lanka, ele mantinha muitos links com a internet que estava começando e gostava muito de emails. Só que ele tomava muito cuidado para não gastar tempo demais respondendo aos seus admiradores, o que lhe tirava o foco. Eu, por exemplo, preciso me concentrar no meu trabalho e participar de uma rede social como o Facebook pode ser uma grande perda de tempo. As redes sociais podem ser úteis para a criatividade num nível mais baixo, mas se você tem a confiança de ter uma criatividade excepcional, você retira as suas idéias de outros lugares, da sua própria pesquisa.
No seu livro, você fala que a solidão é importante para a criatividade.
Exatamente. Todos os gênios que pesquisei eram pessoas que prezavam muito pela privacidade e passavam muito tempo trabalhando sozinhas ou com uma pessoa. Cartier Bresson trabalhava geralmente sozinho, as melhores ideias de Einstein surgiram quando ele estava sozinho. Se você pensa nos principais gênios, eles geralmente publicavam seus trabalhos mais importantes sozinhos. Isso é muito incomum hoje.
 Shutterstock
"Para ser gênio, não precisa ser inteligente", afirma Robinson
Com a internet e essas influências, os gênios tendem a desaparecer?
O fato é que demora um bom tempo para que as pessoas reconheçam alguém como um gênio. Normalmente, um gênio só é reconhecido pelos principais especialistas na área após a morte. A internet não deve mudar isso. Genialidade não é inata, ela é julgada e determinada pelo reconhecimento dos outros. Quando Bach morreu em 1750, ninguém dava nada por ele ou achava que era um gênio. Ficou esquecido por mais de 70 anos, a não ser por Mozart. Hoje ele é o mais reconhecido pelos especialistas na área. O mesmo aconteceu com Virginia Wolf. Há muitos fatores negativos agora por conta da especialização. Na ciência está difícil conseguir se movimentar bem por uma gama tão grande de conhecimento. Os físicos de hoje, por exemplo estão concentrados em aspectos muito particulares de sua própria física. Não imagino alguém como Einstein surgindo novamente hoje ou no futuro.
De que forma a especialização atrapalha?
Ela torna mais difícil você fazer uma imersão numa série de disciplinas. Darwin é um bom exemplo. Ele sabia tudo de insetos e quase tudo de rochas. Ele sabia muito de história e também estudou economia. Toda essa gama de conhecimento, particularmente o de história natural e geologia, o ajudou a desenhar a sua teoria. Se, por exemplo, ele forçasse o estudo específico de detalhes de apenas uma espécie de animal, seria muito difícil de aparecer com essa teoria. E, claro, ele viajou cinco anos pelo mundo, um conhecimento que também o ajudou. Há muita pressão profissional para a especialização hoje quando você faz Ph.D. As grandes idéias, hoje, não estão vindo das universidades, nem mesmo das mais tradicionais. As grandes idéias hoje, estão vindo de insituições outsiders. Se você tem um QI alto e estuda em uma grande universidade, alguma coisa vai se perder. Enfim, acho que os gênios não vão desaparecer, mas serão em menor número e haverá mais controversia. É muito difícil identificar um grande gênio vivo hoje.
Por que você diz em seu livro que, para ser gênio, não é preciso ser inteligente?
Richard Feynman é o meu exemplo. Quando ele era adolescente foi testado e o seu QI foi de 125, bem na média, nada de excepcional. Ele foi uma das maiores figuras na física dos Estados Unidos. Quando ganhou o prêmio Nobel, em 1965, deu um discurso na sua antiga escola em Nova York. Disse “não pensem que é necessário ter um QI grande para ser um cientista de destaque, por que eu não tenho”. Claro, há outros exemplos. Darwin era um aluno bem ruim na escola. Einstein não era dos melhores. Todos os gênios que estudei, com uma ou outra exceção, não eram particularmente bons na escola. É um pouco deprimente que a escola interfira negativamente na genialidade, mas é a mais pura verdade.


Fonte: http://revistagalileu.globo.com

2 comentários:

Álvaro Vinícius disse...

Boa matéria!
Só algumas retificações:
"O fato é que demora um bom tempo para que as pessoas reconheçam alguém como um gênio".
Conforme os estudos de Paul Cooijmans, maior autoridade do mundo acerca de 'inteligência, genialidade e desvio social', isso é característica da sociedade em não reconhecer alguém como gênio. Falar que algúem é gênio conforme o pensamento de Fracis Galton: "um gênio é alguém que, ao longo de um período longo e por muitas pessoas, é considerada importante e influente, etc", é raciocinar de maneira tautológica, desconsiderando o potencial intrínseco do sujeito que, após à morte, tem a classificação: "gênio!" Trata-se, portanto, no efeito pós-gênio, uma vez que o cara já era "gênio".
O texto não deixa esses detalhes. Ele está baseado mais em observações com graus significativos de subjetividade. Num olhar menos protocolar e mais performático, nota-se de forma implícita
a correlação muito fraca entre genialidade e inteligência. Cooijmans fala que há uma correlação bastante expressiva entre inteligência e genialidade. Se inteligência é, na concepção de Charles Spearman, com seus estudos na análise fatorial hierárquica, um fator G (geral), o qual engloba a capacidade edutiva - inteligência fluida- com a capacidade reprodutiva -inteligência cristalizada, mediante a cultura - então é razoável afirmar que a genialidade tem uma correlação digna de ser expressa com a inteligência. Obviamente, resultados de QI acima de 160 na escala convencional Stanford- Binet, não diz muita coisa sobre genialidade porque esse teste não mede bem nessa gama alta. É como se a correlação genialidade-inteligência ficasse destoante. Assim, é necessário utilizar testes mais sofisticados
para medir inteligências no espectro de 2% a 1% da população mundial. Complementando mais, vale salientar que a educação clássica só é interessante para pessoas que apresentam QI's até 140. Acima disso, o estudo formal deixa de ser algo atrativo. Essa pode ser uma das razões de Charles Darwin e Albert Einstein terem sido alunos medíocres por alguns professores. Quanto a Einstein, sua maneira de pensar era muito visual e profunda, beirando à lentidão. Daí, pode-se chegar a conclusão que pensamento convergente rápido - raciocinar de forma rápida para resolver problemas elementares - não é forte indicador de genialidade.
O pensamento divergente, com agressivo poder de engenhosidade, tem
múltiplas correlações com inteligências com QI's acima de 160 na escala convencional.


Outro ponto:
"Richard Feynman é o meu exemplo. Quando ele era adolescente foi testado e o seu QI foi de 125, bem na média, nada de excepcional"

Isso não é verdade e não representa sua real capacidade. Feynman foi um dos maiores físicos do século XX, falava vários idiomas, foi autor de muitos trabalhos expressivos. Um dos motivos para tal
resultado, talvez tenha sido um teste muito antigo e mal calibrado,
como os arcáicos testes de Alfred Binet. Conforme a Sigma Society, o escore de Feyman é ,no GRE-Math, em torno de 170 - convertido em QI. Além disso, é importante esclarecer que esse número varia conforme a escala estipulada do teste. Não é um número absoluto, pois isso é baseado numa distribuição estatística - geralmente a curva Gaussiana, calculando a assimetria e curtose para uma devida precisão. Por fim, tem o fator da criatividade dee ser melhor visto como a combinação sinérgica entre inteligência, consciência e desvios.

Álvaro Vinícius disse...

Boa matéria!
Só algumas retificações:
"O fato é que demora um bom tempo para que as pessoas reconheçam alguém como um gênio".
Conforme os estudos de Paul Cooijmans, maior autoridade do mundo acerca de 'inteligência, genialidade e desvio social', isso é característica da sociedade em não reconhecer alguém como gênio. Falar que algúem é gênio conforme o pensamento de Francis Galton: "um gênio é alguém que, ao longo de um período longo e por muitas pessoas, é considerada importante e influente, etc", é raciocinar de maneira tautológica, desconsiderando o potencial intrínseco do sujeito que, após à morte, tem a classificação: "gênio!" Trata-se, portanto, no efeito pós-gênio, uma vez que o cara já era "gênio".
O texto não deixa esses detalhes. Ele está baseado mais em observações com graus significativos de subjetividade. Num olhar menos protocolar e mais performático, nota-se de forma implícita
a correlação muito fraca entre genialidade e inteligência. Cooijmans fala que há uma correlação bastante expressiva entre inteligência e genialidade. Se inteligência é, na concepção de Charles Spearman, com seus estudos na análise fatorial hierárquica, um fator G (geral), o qual engloba a capacidade edutiva - inteligência fluida- com a capacidade reprodutiva -inteligência cristalizada, mediante a cultura - então é razoável afirmar que a genialidade tem uma correlação digna de ser expressa com a inteligência. Obviamente, resultados de QI acima de 160 na escala convencional Stanford- Binet, não diz muita coisa sobre genialidade porque esse teste não mede bem nessa gama alta. É como se a correlação genialidade-inteligência ficasse destoante. Assim, é necessário utilizar testes mais sofisticados
para medir inteligências no espectro de 2% a 1% da população mundial. Complementando mais, vale salientar que a educação clássica só é interessante para pessoas que apresentam QI's até 140. Acima disso, o estudo formal deixa de ser algo atrativo. Essa pode ser uma das razões de Charles Darwin e Albert Einstein terem sido alunos medíocres por alguns professores. Quanto a Einstein, sua maneira de pensar era muito visual e profunda, beirando à lentidão. Daí, pode-se chegar a conclusão que pensamento convergente rápido - raciocinar de forma rápida para resolver problemas elementares - não é forte indicador de genialidade.
O pensamento divergente, com agressivo poder de engenhosidade, tem
múltiplas correlações com inteligências com QI's acima de 160 na escala convencional.


Outro ponto:
"Richard Feynman é o meu exemplo. Quando ele era adolescente foi testado e o seu QI foi de 125, bem na média, nada de excepcional"

Isso não é verdade e não representa sua real capacidade. Feynman foi um dos maiores físicos do século XX, falava vários idiomas, foi autor de muitos trabalhos expressivos. Um dos motivos para tal
resultado, talvez tenha sido um teste muito antigo e mal calibrado,
como os arcáicos testes de Alfred Binet. Conforme a Sigma Society, o escore de Feyman é ,no GRE-Math, em torno de 170 - convertido em QI. Além disso, é importante esclarecer que esse número varia conforme a escala estipulada do teste. Não é um número absoluto, pois isso é baseado numa distribuição estatística - geralmente a curva Gaussiana, calculando a assimetria e curtose para uma devida precisão. Por fim, tem o fator da criatividade deve ser melhor visto como a combinação sinérgica entre inteligência, consciência e desvios.

Álvaro Vinícius

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