sábado, 9 de outubro de 2010

O carro elétrico polui

A energia que consome vem, em sua maioria, de fontes pouco ecológicas. Existe um motivo para este tipo de veículo nunca ter dado certo. E o Brasil não precisa dele agora

 
Clayton Júnior
Crédito: Clayton Júnior
Do ponto de vista de poluição local, o carro elétrico é muito bom. Não emite gases tóxicos — nem sequer contribui para o aumento da poluição sonora. O problema é quando se abre o foco e se pensa do ponto de vista da poluição global. Para abastecer um carro elétrico, é preciso ligá-lo na tomada, por várias horas. Essa energia elétrica precisa vir de algum lugar. Na maior parte do mundo, ela é fornecida por queima de combustíveis fósseis: carvão, gás natural e óleo pesado. Ou seja, este tipo de veículo emite CO2 indiretamente, no momento de ser abastecido.

Vejamos: os carros elétricos estão no mercado há muito tempo. Já existiam em Paris, em 1881. Em 1888, Londres inaugurava seu primeiro ônibus movido a eletricidade. Tudo indicava que tomariam as ruas, mas quem venceu foram os veículos com motores de combustão interna. E não é porque eles são mais eficientes, não. É porque são mais baratos. Desde o século 19, esse panorama não mudou. Quando eu olho para daqui a 10 ou 20 anos, não vejo o carro elétrico dominando o mercado, porque ele é caro demais. Talvez, quem sabe, para 2050...

Ainda assim, o governo americano vem investindo nos subsídios a carros elétricos. Hoje, o cidadão do país que compra um veículo deste tipo pode abater até US$ 7.500 no imposto. O governo da Califórnia banca a instalação doméstica do aparelho de abastecimento do carro. A Europa vêm investindo pesado na pesquisa deste tipo de modelo. Mas estudos do próprio governo americano apontam que o carro elétrico continuará sendo comercialmente inviável pelos próximos dez anos.

O problema é que esses países são pressionados a reduzir a emissão de poluentes na atmosfera. Para eles, o carro tende a ser o bode expiatório da emissão de CO2 porque os veículos podem ser considerados um luxo, principalmente em locais onde o transporte público funciona. Daí o investimento pesado em veículos híbridos, elétricos, movidos a hidrogênio... O importante é lançar no mercado modelos que não lancem poluentes por um escapamento. Se o carro elétrico vai aumentar a poluição gerada por usinas termelétricas, problema delas.

E estamos falando de países que não têm alternativas energéticas, mas constituem um mercado automobilístico grande e sólido. No caso do Brasil, a aposta em veículos elétricos, que vem sendo discutida internamente pelo governo federal, não faz nenhum sentido. Temos uma alternativa tão pouco poluente quanto o modelo elétrico, e muito mais barata: o etanol. Nosso álcool pode não ser 100% renovável, porque usamos diesel para arar a terra e transportar o combustível. Mas é equiparado aos carros elétricos, até porque as próprias plantações de cana-de-açúcar recolhem gases poluentes do ar. E essa é uma indústria já solidificada e instalada. Para reduzir a emissão global de CO2 não precisamos gastar o mesmo que os países europeus. Essa aposta faz sentido para a indústria automobilística deles, não para a nossa — até porque nosso mercado é composto por carros pequenos e (tirando a alta carga de impostos) baratos.

A aposta no carro elétrico é uma estratégia de autodefesa da indústria automobilística dos países desenvolvidos. Não é a hora do Brasil investir nesse mercado. Já temos nosso próprio combustível não-poluente, e ele é muito mais barato.

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